Tudo começou com uma veia. Como assim?! Calma. Já explico. Recentemente passei por um processo cirúrgico de videolaparoscopia. Quanto à cirurgia, estou ótima. O que tem me causado dores, aborrecimento e noites sem dormir é o meu braço. Continuo explicando. Ao encontrar a veia para colocar o meu soro, o profissional em questão deve ter lesionado um pequeno nervo do meu braço. Resultado: da cirurgia, algo mais complexo, principalmente por causa dos pontos e da anestesia geral, estou ótima; mas o que tá “pegando” é um ato simples e básico de uma veia mal pulsionada.
Isso me fez pensar em como vivemos num país mais ou menos. Embora meu convênio seja excelente e tenha sido internada num dos melhores hospitais da cidade onde eu moro, estamos sujeitos a profissionais mais ou menos preparados. Eu digo isso porque, na minha ignorância sobre a profissão de enfermagem, acredito que “achar” uma veia sem machucar o paciente deva ser como fazer uma baliza bem feita por um motorista habilitado. E olhe que eu não posso reclamar. Vemos, todos os dias, na imprensa nacional, notícias das mais escabrosas resultantes do trabalho de profissionais mais ou menos bem preparados. Digamos que, apesar de tudo, eu ainda “saí no lucro”.
Pensando bem, infelizmente o nosso país não é inteiro assim, cheio de pessoas e coisas mais ou menos? Veja a nossa presidente eleita. A gente conhece mais ou menos sobre ela. Quanto aos parlamentares recém eleitos, por exemplo, temos um deputado federal, o mais votado do país, que sabe mais ou menos ler e escrever. E ainda temos que conviver mais ou menos com a incerteza de que nossos políticos são sérios, honestos e trabalhadores.
Na educação, onde a qualidade deveria ser tão exata quanto a Matemática, também vemos todos os dias provas de que ela funciona mais ou menos em todos os níveis. Para coroar tal afirmação, assistimos às recentes lambanças do Enem, cuja realização aconteceu mais ou menos conforme o esperado; mais ou menos prejudicando milhares de estudantes, o que faz com que continuemos mais ou menos acreditando em sua seriedade.
E assim tudo se repete. Nos serviços públicos, principalmente aqueles que dependem deles, acreditamos que iremos receber um atendimento mais ou menos de qualidade. Nos que foram privatizados, também fingimos crer que o que pagamos tem mais ou menos o mesmo nível de exigência que esperamos.
Até no futebol, o ópio de nosso povo brasileiro, temos que aceitar essa conduta mais ou menos de ser. Vejam, por exemplo, o meu time, o Santos. Após o show de bola que encantou o Brasil inteiro no primeiro semestre de 2010, a lesão de Ganso e o mais ou menos descontrole dos meninos mais ou menos educados da Vila fez com que o Santos passasse de equipe sensação (com direito a participação em programas de televisão) para um time bem mais ou menos.
E não é só. Assistimos recentemente o Corinthians ser mais ou menos favorecido pelo juiz no jogo contra o Cruzeiro, o que desde já nos permite dizer que é mais ou menos possível prever qual será o resultado do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2010.
Só sei que tudo isso me leva a crer que estamos cercados de mediocridade por todos os lados. O meu medo, realmente, é ser inundada por essa maré e me transformar numa profissional mais ou menos, numa mãe mais ou menos, numa cidadã mais ou menos. Então, meus amigos, vou confessar uma coisa pra vocês. Como diz a letra daquela canção, eu terei, com toda certeza, perdido a batalha no controle da minha maluquez, misturada com minha lucidez. Pois só sendo maluco beleza pra conseguir continuar vivendo nesse país mais ou menos.