Hoje eu fiz um idoso feliz. Mas deixá-lo feliz, me fez triste. Vou explicar o motivo. Quando eu estava indo buscar meus filhos na escola, eu o vi assim que entrei na rua movimentada. Apoiado em uma bengala, ele observava um a um os carros passarem por ele ignorando completamente a faixa de pedestre. Passou um, passou dois, passou três e ninguém parava. Chegou a minha vez. É claro que eu parei para que ele pudesse exercer o seu direito de atravessar a rua, mesmo que a idade o fizesse andar a passos lentos e inseguros. Não tem problema...não há pressa que justifique falta de sensibilidade com um idoso ou com qualquer pessoa.
Pois bem. Surpreso, ele olhou pra mim, sorriu e fez, várias vezes, o gesto de positivo. Acho que primeiro veio a surpresa, depois a satisfação de perceber que alguém fora educado o bastante para deixá-lo atravessar.
Eu poderia ter ficado feliz por ter feito este gesto e ajudado um idoso a seguir o seu caminho, mas não fiquei. Pelo simples fato de que parar para que qualquer pessoa atravesse na faixa de pedestres não é mérito algum, é obrigação. Foi assim que eu aprendi. É assim que ensino meus filhos.
Com seus gestos tímidos, o senhor me agradeceu efusivamente por algo que não deveria agradecer...eu não fiz nada demais.
O que me deixa ainda mais triste é saber que vivemos numa sociedade onde a maioria sequer percebe o direito de ir e vir do outro; onde a individualidade e o egoísmo nos fazem esquecer a importância de um simples gesto de gentileza.
Com a medicina cada vez mais avançada, medicamentos poderosos e conscientização cada vez maior sobre a prevenção de doenças, seremos, muito em breve, um país de idosos. De idosos como o senhor que queria atravessar uma rua e não conseguia.
Eu também fico com medo. Principalmente por meus filhos, que irão viver num mundo onde dizer “com licença”, “muito obrigado”, “por favor”, ou onde dar o seu lugar a um idoso a uma gestante para sentar seja encarado como algo maravilhoso, de extrema educação e não apenas uma simples demonstração de respeito pelo outro.
Sei que há cidades onde o desrespeito à faixa de pedestre é multa na certa. Mas não seria preciso gastar com a punição, se existe a conscientização. E isso, infelizmente, não se compra na concessionária do carro zero quilômetro, nem na faculdade, nem na escola. Educação se aprende em casa.
Antes de escrever este artigo, lembrei que dia 1º de outubro comemora-se o Dia do Idoso. Então eu fiquei um pouco feliz, porque acho que o presente para aquele senhor, no seu dia, eu acabei dando de qualquer forma.
O seu gesto e sua expressão de gratidão levo no meu coração, para sempre ensinar meus filhos que ser educado não é uma qualidade, é um dever.
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