Momento raro no Espaço Imprensa TDKOM. Silêncio toma conta, se conseguirmos deixar de lado os outros sons que contagiam a feira: vozes de crianças, conversas dos adultos, rádio divulgando seus anúncios e avisos, rádios comunicadores trabalhando sem parar, telefones também, mas, apesar de tudo, ainda resta um certo silêncio.
Hora ideal para pensar. Talvez a despedida da minha família, de quem já estou com saudades, realmente instale em todos nós esse sentimento de despedida.
Parodoxo interessante esse ao ouvirmos toda a alegria do Bloco de R pelas ruas do recinto, encerrando sentimentos controversos, como a alegria do dever cumprido, saudades dos momentos felizes com os amigos, vontade de estar em casa com os meus, falta de minha rotina de estudos, cansaço que impede inclusive que caminhemos com passos firmes.
Ontem me perguntaram qual é o segredo do sucesso dessa feira. Parece "chover no molhado" dizer, mas acho que o meior motivo é o sensação de pertencermos a uma grande família que nos faz acordar cada novo dia de Fapi dispostos a doar o melhor que podemos oferecer, seja em sorriso, em alegria, em trabalho, em atenção e, por que não, em alguns momentos de estresse.
Impossível não registrar mais uma vez o agredecimento especial à TDKOM, seus diretores e funcionários, e à querida Renata, que nos recepcionou com tanto carinho que ficamos sem palavras, a não ser dizer: agora sim a Assessoria de Imprensa da Fapi Ourinhos tem a sala que a magnitude da maior feira de portões abertos do país merece.
Planos, tenho muitos. Aquariana que sou, impossível não fazer a Fapi pensando em outras. Mas a vida dá muitas voltas e não sabemos o dia de amanhã. Só sei do dia de hoje.
Cansada, mais feliz, ao ver o resultado do trabalho mais uma vez dando certo. Ao ver mais uma apaixonada pela Fapi nascendo, minha amiga Eliziani Dalenagori, que por aqui já chamaram de tudo: Liza, Lizie, Elisa...menos do que ela mais gosta: somente Lizi. Obrigada amiga por essa parceria.
Um recadinho também especial à Amanda, que vejo florescer como jornalista dia a dia. Tão calada às vezes, mais cheia de encantos que só quem presta a atenção pode perceber.
Decepções, todos temos. Principalmente quando esperamos tanto das pessoas baseados na nosso próprio critério de "excelência". Como diz meu marido, o problema esta em mim, em esperar nos outros um mundo que ainda não existe.
Mas as suspresas são tão maiores que compensam aqueles que nos decepcionam.
Um abraço especial aos parceiros de sempre: Rafael, Andreia, Carlos, Neia, Débora, Marcelo, Fernando, Jairo e também para aqueles que conheci agora Renan, Michel, Giovana.
E que venha uma nova Fapi, com ou sem todos nós.
Oi queridos...
Amigos, colegas de trabalho, de lida, de lamentações...obrigada pela visitinha, sempre bem-vinda!
domingo, 10 de junho de 2012
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Aqueles que fazem compensar todo o resto
Acredito que muitas pessoas devam ter a curiosidade sobre o que ocorre nos bastidores da maior feira de portões abertos do país. Muitos querem saber qual é o artista mais legal, qual tem exigências de camarim mais absurdas, etc, etc, etc. A realidade é muito mais sem graça do que muitos imaginam. São apenas pessoas trabalhando de uma maneira diferente que as demais: a música, que mexe com o imaginário das pessoas, que emociona, que nos fazem sonhar.
Há mais momentos de estresse e frustação nesse trabalho do que se possa imaginar, mas, vez ou outra, eu brinco que Deus manda seus anjos para nos provar que ele está lá, olhando e cuidando por nós.
Já escrevi sobre isso em outra postagem, mas hoje quero falar de um anjinho especial: Marcela, de 10 anos, que ontem realizou o grande sonho de sua vida, conhecer o ídolo Luan Santana.
Presenciar o momento em que esta garotinha de rosto tão expressivo entrou no camarim, sua surpresa e encantamento em ver o cantor pessoalmente são experiências indescritíveis. Manteiga derretida eu sou por natureza, mas para manter a “pose” de assessora de imprensa profissional, procuro controlar meus sentimentos. Mas ao ver minha colega Eliziani Dalenogari não impedir as lágrimas, mesmo tirando fotos sem parar, não pude conter as minhas. E aí foi que eu entendi a resposta que um dos produtores quando eu perguntei a ele, minutos antes, no momento de tensão que antecede o atendimento aos fãs e à imprensa, como eles aguentavam aquilo todo dia. “Há coisas boas nessa confusão toda e momentos inesquecíveis que compensam todo o resto”.
Conhecer Marcela foi o meu momento inesquecível, que compensou todo o resto . E que venham outros momentos como esse e que tenhamos a oportunidade de conhecer outras Marcelas nessa 46ª Fapi.
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Fada das Noivas Descontroladas
Fada das noivas descontroladas
Aposto que você está achando uma viagem esta história de “Fada das Noivas Descontroladas”. Está duvidando, inclusive, que ela sequer exista. Se ela existe ou não, o que eu vou dizer é sério: para mim, ela funcionou e eu vou explicar.
Quando eu choro, não é como na novela, em que as pessoas derramam placidamente suas lágrimas sem sequer borrar um tiquinho da maquiagem. Na verdade, chorar assim acho que é só na novela, porque quando eu choro, é pra valer e eu fico “medonha” pra valer, do tipo de fazer noivo sair correndo do altar: os olhos incham, a boca incha, o nariz fica vermelho feito a roupa do Papai Noel. Sem contar que eu dou valor ao dinheiro, então, chorar toda linda, maquiada, no dia do seu casamento, é deixar o dinheiro ir literalmente por água abaixo.
Pois muito bem. Horas antes de entrar na igreja no dia do meu casamento, eu fiz um pedido à Fada das Noivas Descontroladas, para que só daquela vez me deixasse sair ilesa desse momento. Pois ela me atendeu.
Mas, não foi o dia do aniversário do meu casamento que me fez lembrar dessa fada louca que eu inventei. Foi algo mais recente: ver o meu marido cantar.
Ontem o Fernando cantou na missa, aqui em Bauru, na Paróquia de Santa Rita e fomos toda a trupe. Pois é. Sentada lá, ouvindo ele cantar, foi incrível perceber que, apesar de tantos anos, isso ainda mexe comigo. Fico nervosa, emocionada, com vontade de gritar: “Olha não que o bofe é meu!” (hoje não mais, afinal sou uma mulher casada, madura, blá, blá blá). Às vezes, sinto até vontade de chorar, e quem me conhece sabe, que, entre ter vontade de chorar e realmente abrir a torneirinha, é um passo muito, muito, muito curto. Ontem não foi diferente.
O mais engraçado é perceber que, apesar de eu não ser mais aquela Kátia de 13 anos atrás, nem tampouco ele ser o mesmo Fernando, eu ainda me sinto como aquela menina que ia ver o namorado cantar na igreja e ficava completamente extasiada, apaixonada.
Daí então que veio a lembrança da poderosa Fada das Noivas Descontroladas, afinal, num dos dias mais emocionantes na vida de uma mulher, entrar na Igreja com seu pai e ver seu futuro marido cantando pra você é algo impossível de explicar em palavras. Mesmo assim, a fada me ajudou, e eu me controlei.
Igual a uma artista de televisão, desfilei pela igreja, sorrindo para todos, escutando apenas ao fundo o chororô das minhas amigas e madrinhas (e de alguns marmanjos também).
Só que eu já aviso às meninas casadoiras que estão lendo este meu segredo que a Fada das Noivas Descontroladas pode ser poderosa, mas ela cobra prendas em troca de seus favores.
Desde aquele dia, sempre que eu ouço essa música, ou assisto as imagens do meu casamento e vejo meu marido cantando pra mim, eu ainda choro, como se ainda fosse 05 de dezembro de 1998. Mas vamos combinar que essa não é uma prenda difícil de pagar.
Esse texto é uma homenagem ao nosso aniversário de casamento e uma brincadeira para divertir os amigos que lá estiveram e que não me viram chorar (hehehehhe).
Aposto que você está achando uma viagem esta história de “Fada das Noivas Descontroladas”. Está duvidando, inclusive, que ela sequer exista. Se ela existe ou não, o que eu vou dizer é sério: para mim, ela funcionou e eu vou explicar.
Quando eu choro, não é como na novela, em que as pessoas derramam placidamente suas lágrimas sem sequer borrar um tiquinho da maquiagem. Na verdade, chorar assim acho que é só na novela, porque quando eu choro, é pra valer e eu fico “medonha” pra valer, do tipo de fazer noivo sair correndo do altar: os olhos incham, a boca incha, o nariz fica vermelho feito a roupa do Papai Noel. Sem contar que eu dou valor ao dinheiro, então, chorar toda linda, maquiada, no dia do seu casamento, é deixar o dinheiro ir literalmente por água abaixo.
Pois muito bem. Horas antes de entrar na igreja no dia do meu casamento, eu fiz um pedido à Fada das Noivas Descontroladas, para que só daquela vez me deixasse sair ilesa desse momento. Pois ela me atendeu.
Mas, não foi o dia do aniversário do meu casamento que me fez lembrar dessa fada louca que eu inventei. Foi algo mais recente: ver o meu marido cantar.
Ontem o Fernando cantou na missa, aqui em Bauru, na Paróquia de Santa Rita e fomos toda a trupe. Pois é. Sentada lá, ouvindo ele cantar, foi incrível perceber que, apesar de tantos anos, isso ainda mexe comigo. Fico nervosa, emocionada, com vontade de gritar: “Olha não que o bofe é meu!” (hoje não mais, afinal sou uma mulher casada, madura, blá, blá blá). Às vezes, sinto até vontade de chorar, e quem me conhece sabe, que, entre ter vontade de chorar e realmente abrir a torneirinha, é um passo muito, muito, muito curto. Ontem não foi diferente.
O mais engraçado é perceber que, apesar de eu não ser mais aquela Kátia de 13 anos atrás, nem tampouco ele ser o mesmo Fernando, eu ainda me sinto como aquela menina que ia ver o namorado cantar na igreja e ficava completamente extasiada, apaixonada.
Daí então que veio a lembrança da poderosa Fada das Noivas Descontroladas, afinal, num dos dias mais emocionantes na vida de uma mulher, entrar na Igreja com seu pai e ver seu futuro marido cantando pra você é algo impossível de explicar em palavras. Mesmo assim, a fada me ajudou, e eu me controlei.
Igual a uma artista de televisão, desfilei pela igreja, sorrindo para todos, escutando apenas ao fundo o chororô das minhas amigas e madrinhas (e de alguns marmanjos também).
Só que eu já aviso às meninas casadoiras que estão lendo este meu segredo que a Fada das Noivas Descontroladas pode ser poderosa, mas ela cobra prendas em troca de seus favores.
Desde aquele dia, sempre que eu ouço essa música, ou assisto as imagens do meu casamento e vejo meu marido cantando pra mim, eu ainda choro, como se ainda fosse 05 de dezembro de 1998. Mas vamos combinar que essa não é uma prenda difícil de pagar.
Esse texto é uma homenagem ao nosso aniversário de casamento e uma brincadeira para divertir os amigos que lá estiveram e que não me viram chorar (hehehehhe).
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Deixar um idoso feliz me fez triste
Hoje eu fiz um idoso feliz. Mas deixá-lo feliz, me fez triste. Vou explicar o motivo. Quando eu estava indo buscar meus filhos na escola, eu o vi assim que entrei na rua movimentada. Apoiado em uma bengala, ele observava um a um os carros passarem por ele ignorando completamente a faixa de pedestre. Passou um, passou dois, passou três e ninguém parava. Chegou a minha vez. É claro que eu parei para que ele pudesse exercer o seu direito de atravessar a rua, mesmo que a idade o fizesse andar a passos lentos e inseguros. Não tem problema...não há pressa que justifique falta de sensibilidade com um idoso ou com qualquer pessoa.
Pois bem. Surpreso, ele olhou pra mim, sorriu e fez, várias vezes, o gesto de positivo. Acho que primeiro veio a surpresa, depois a satisfação de perceber que alguém fora educado o bastante para deixá-lo atravessar.
Eu poderia ter ficado feliz por ter feito este gesto e ajudado um idoso a seguir o seu caminho, mas não fiquei. Pelo simples fato de que parar para que qualquer pessoa atravesse na faixa de pedestres não é mérito algum, é obrigação. Foi assim que eu aprendi. É assim que ensino meus filhos.
Com seus gestos tímidos, o senhor me agradeceu efusivamente por algo que não deveria agradecer...eu não fiz nada demais.
O que me deixa ainda mais triste é saber que vivemos numa sociedade onde a maioria sequer percebe o direito de ir e vir do outro; onde a individualidade e o egoísmo nos fazem esquecer a importância de um simples gesto de gentileza.
Com a medicina cada vez mais avançada, medicamentos poderosos e conscientização cada vez maior sobre a prevenção de doenças, seremos, muito em breve, um país de idosos. De idosos como o senhor que queria atravessar uma rua e não conseguia.
Eu também fico com medo. Principalmente por meus filhos, que irão viver num mundo onde dizer “com licença”, “muito obrigado”, “por favor”, ou onde dar o seu lugar a um idoso a uma gestante para sentar seja encarado como algo maravilhoso, de extrema educação e não apenas uma simples demonstração de respeito pelo outro.
Sei que há cidades onde o desrespeito à faixa de pedestre é multa na certa. Mas não seria preciso gastar com a punição, se existe a conscientização. E isso, infelizmente, não se compra na concessionária do carro zero quilômetro, nem na faculdade, nem na escola. Educação se aprende em casa.
Antes de escrever este artigo, lembrei que dia 1º de outubro comemora-se o Dia do Idoso. Então eu fiquei um pouco feliz, porque acho que o presente para aquele senhor, no seu dia, eu acabei dando de qualquer forma.
O seu gesto e sua expressão de gratidão levo no meu coração, para sempre ensinar meus filhos que ser educado não é uma qualidade, é um dever.
Pois bem. Surpreso, ele olhou pra mim, sorriu e fez, várias vezes, o gesto de positivo. Acho que primeiro veio a surpresa, depois a satisfação de perceber que alguém fora educado o bastante para deixá-lo atravessar.
Eu poderia ter ficado feliz por ter feito este gesto e ajudado um idoso a seguir o seu caminho, mas não fiquei. Pelo simples fato de que parar para que qualquer pessoa atravesse na faixa de pedestres não é mérito algum, é obrigação. Foi assim que eu aprendi. É assim que ensino meus filhos.
Com seus gestos tímidos, o senhor me agradeceu efusivamente por algo que não deveria agradecer...eu não fiz nada demais.
O que me deixa ainda mais triste é saber que vivemos numa sociedade onde a maioria sequer percebe o direito de ir e vir do outro; onde a individualidade e o egoísmo nos fazem esquecer a importância de um simples gesto de gentileza.
Com a medicina cada vez mais avançada, medicamentos poderosos e conscientização cada vez maior sobre a prevenção de doenças, seremos, muito em breve, um país de idosos. De idosos como o senhor que queria atravessar uma rua e não conseguia.
Eu também fico com medo. Principalmente por meus filhos, que irão viver num mundo onde dizer “com licença”, “muito obrigado”, “por favor”, ou onde dar o seu lugar a um idoso a uma gestante para sentar seja encarado como algo maravilhoso, de extrema educação e não apenas uma simples demonstração de respeito pelo outro.
Sei que há cidades onde o desrespeito à faixa de pedestre é multa na certa. Mas não seria preciso gastar com a punição, se existe a conscientização. E isso, infelizmente, não se compra na concessionária do carro zero quilômetro, nem na faculdade, nem na escola. Educação se aprende em casa.
Antes de escrever este artigo, lembrei que dia 1º de outubro comemora-se o Dia do Idoso. Então eu fiquei um pouco feliz, porque acho que o presente para aquele senhor, no seu dia, eu acabei dando de qualquer forma.
O seu gesto e sua expressão de gratidão levo no meu coração, para sempre ensinar meus filhos que ser educado não é uma qualidade, é um dever.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
O desrespeito que nos envergonha
Eu odeio frases feitas, lugar-comum, chavão e expressões batidas. Dizer que a internet promoveu uma grande revolução na forma como nos comunicamos é, com certeza, um lugar mais do que comum. E que tudo na vida pode ser usado para o bem (e como a internet fez bem para os jornalistas, por exemplo) e para o mal também é outra expressão mais que batida.
Mas é impossível não pensar nisso quando a gente sente na pele (outro chavão) os efeitos do uso indevido da rede por profissionais com pouca ou nenhuma ética. Recentemente, perdemos uma pessoa de nossa família, filho de uma das pessoas mais queridas do meu convívio, num acidente em uma rodovia no oeste catarinense.
A distância, a falta de informações, e a profissão de jornalista me levaram a procurar na internet tudo o que poderia ter sido noticiado sobre o acidente. No começo, apenas uma nota que se repetia indefinidamente em cada site, dizendo o nome completo dos envolvidos, o local do acidente e o número de vítimas fatais. No dia seguinte ao acontecido, fotos estampavam os principais sites jornalísticos da região e outros que fazem apenas cobertura deste tipo de notícia. A maioria das fotos fez o seu papel jornalístico: registrou o ocorrido, o estado dos veículos envolvidos, a forma como aconteceu o acidente, deixando bem claro o quanto o a colisão tinha sido grave e por que motivo os três envolvidos vieram a óbito, como se diz no jargão policial.
Até aí, tudo bem, todos cumprindo o seu papel. Mas então, outras fotos vieram e desta vez, por um momento, senti vergonha de ver tudo aquilo, senti um constrangimento imenso de fazer parte do mesmo grupo “profissional” destas pessoas que colocam sem pudor as fotos das vítimas de uma forma que tais imagens não saiam nunca mais de nossas memórias.
Quando vi a fotografia de uma das vítimas, caída à beira da estrada, impossível não lembrar que aquela pessoa - que na imagem mais parecia mais um boneco estranho com partes retorcidas - foi um dia um jovem alegre, iniciando uma carreira, com uma família feliz e muito ainda a viver. Impossível não lembrar também seu aniversário de um ano, quando era um dos bebês mais lindos que já tive oportunidade de conhecer, ou quando ele, criança, segurava minha mão para atravessar uma rua movimentada. Aquela pessoa ferida e sem vida, divulgada de forma grotesca para todo país, tem um pai e uma mãe que agora estão dilacerados pela dor; um irmão que teve que ser mais forte que tudo, engolir seu sofrimento para resolver situações para as que ninguém nos preparou; tem familiares que torceram por cada etapa de sua vida e também sofrem; tem amigos que ainda não aceitam o fato de uma vida acabar desta maneira.
Então eu me pergunto se, depois de alguns dias, talvez movidos pelo mesmo interesse de saber mais sobre o acidente, estes mesmos pais, este irmão, estes familiares e amigos não irão buscar notícias na internet e se deparar com tal demonstração de desrespeito pela vida humana e pelos sentimentos daqueles que ficaram.
Ironicamente, as fotos foram cedidas aos sites por quem, legalmente, deveria nos proteger, inclusive à nossa imagem. “Imagens cedias pela Polícia Rodoviária Federal”, é o que está registrado nos sites. Como profissional da área, sei que é obrigação da Polícia registrar todos os detalhes de um acidente, mesmo porque tais fotos irão inclusive elucidar os motivos que levaram ao acidente. Sei que é do interesse jornalístico registrar tal ocorrência. Mas me pergunto o que leva as autoridades policiais a cederem todas as fotos, inclusive aquelas que mostram o estado deplorável dos corpos após o acidente. Qual é o interesse de publicidade de tais fotos? Qual é o interesse jornalístico delas? E ainda há a questão de que as fotos foram feitas com equipamento e profissionais pagos pelos cofres públicos, cujo trabalho está sendo literalmente vendido em páginas da internet por todo país, porque quem as divulga, ganha em espaço publicitário, que é cada vez maior quanto mais se comprova sua capacidade de angariar acessos aos endereços eletrônicos.
Você deve estar pensando, assim como eu já o fiz, que a família deveria exigir a retirada do material da rede. Ou então processar os responsáveis pelo uso indevido da imagem, pedindo indenização por danos morais. Mas isso provavelmente nunca vai acontecer, porque no momento, a dor e saudades são tão grandes que tudo isso ainda não chegou ao seu conhecimento e, quando chegar, já vai ser notícia velha. E é contando com isso, com o sofrimento alheio, com a anestesia provocada pela dor que essas pessoas ganham dinheiro, popularidade e “audiência” em cima da tragédia alheia.
Quando se fala na imprensa marrom, na imprensa sensacionalista, costuma-se a brincar que, se espremermos o jornal, ele sai sangue. Na web também é assim. Eu apenas não posso me calar e deixar de registrar minha indignação contra o desrepeito que nos envergonha, que nos fere e que continua navegando livre pela dificuldade de punir os responsáveis, seja por falta de legislação, seja por falta de interesse daqueles cujo deve é coibir tal desrespeito. Como jornalista, faço minha parte, não calando meu protesto.
Mas é impossível não pensar nisso quando a gente sente na pele (outro chavão) os efeitos do uso indevido da rede por profissionais com pouca ou nenhuma ética. Recentemente, perdemos uma pessoa de nossa família, filho de uma das pessoas mais queridas do meu convívio, num acidente em uma rodovia no oeste catarinense.
A distância, a falta de informações, e a profissão de jornalista me levaram a procurar na internet tudo o que poderia ter sido noticiado sobre o acidente. No começo, apenas uma nota que se repetia indefinidamente em cada site, dizendo o nome completo dos envolvidos, o local do acidente e o número de vítimas fatais. No dia seguinte ao acontecido, fotos estampavam os principais sites jornalísticos da região e outros que fazem apenas cobertura deste tipo de notícia. A maioria das fotos fez o seu papel jornalístico: registrou o ocorrido, o estado dos veículos envolvidos, a forma como aconteceu o acidente, deixando bem claro o quanto o a colisão tinha sido grave e por que motivo os três envolvidos vieram a óbito, como se diz no jargão policial.
Até aí, tudo bem, todos cumprindo o seu papel. Mas então, outras fotos vieram e desta vez, por um momento, senti vergonha de ver tudo aquilo, senti um constrangimento imenso de fazer parte do mesmo grupo “profissional” destas pessoas que colocam sem pudor as fotos das vítimas de uma forma que tais imagens não saiam nunca mais de nossas memórias.
Quando vi a fotografia de uma das vítimas, caída à beira da estrada, impossível não lembrar que aquela pessoa - que na imagem mais parecia mais um boneco estranho com partes retorcidas - foi um dia um jovem alegre, iniciando uma carreira, com uma família feliz e muito ainda a viver. Impossível não lembrar também seu aniversário de um ano, quando era um dos bebês mais lindos que já tive oportunidade de conhecer, ou quando ele, criança, segurava minha mão para atravessar uma rua movimentada. Aquela pessoa ferida e sem vida, divulgada de forma grotesca para todo país, tem um pai e uma mãe que agora estão dilacerados pela dor; um irmão que teve que ser mais forte que tudo, engolir seu sofrimento para resolver situações para as que ninguém nos preparou; tem familiares que torceram por cada etapa de sua vida e também sofrem; tem amigos que ainda não aceitam o fato de uma vida acabar desta maneira.
Então eu me pergunto se, depois de alguns dias, talvez movidos pelo mesmo interesse de saber mais sobre o acidente, estes mesmos pais, este irmão, estes familiares e amigos não irão buscar notícias na internet e se deparar com tal demonstração de desrespeito pela vida humana e pelos sentimentos daqueles que ficaram.
Ironicamente, as fotos foram cedidas aos sites por quem, legalmente, deveria nos proteger, inclusive à nossa imagem. “Imagens cedias pela Polícia Rodoviária Federal”, é o que está registrado nos sites. Como profissional da área, sei que é obrigação da Polícia registrar todos os detalhes de um acidente, mesmo porque tais fotos irão inclusive elucidar os motivos que levaram ao acidente. Sei que é do interesse jornalístico registrar tal ocorrência. Mas me pergunto o que leva as autoridades policiais a cederem todas as fotos, inclusive aquelas que mostram o estado deplorável dos corpos após o acidente. Qual é o interesse de publicidade de tais fotos? Qual é o interesse jornalístico delas? E ainda há a questão de que as fotos foram feitas com equipamento e profissionais pagos pelos cofres públicos, cujo trabalho está sendo literalmente vendido em páginas da internet por todo país, porque quem as divulga, ganha em espaço publicitário, que é cada vez maior quanto mais se comprova sua capacidade de angariar acessos aos endereços eletrônicos.
Você deve estar pensando, assim como eu já o fiz, que a família deveria exigir a retirada do material da rede. Ou então processar os responsáveis pelo uso indevido da imagem, pedindo indenização por danos morais. Mas isso provavelmente nunca vai acontecer, porque no momento, a dor e saudades são tão grandes que tudo isso ainda não chegou ao seu conhecimento e, quando chegar, já vai ser notícia velha. E é contando com isso, com o sofrimento alheio, com a anestesia provocada pela dor que essas pessoas ganham dinheiro, popularidade e “audiência” em cima da tragédia alheia.
Quando se fala na imprensa marrom, na imprensa sensacionalista, costuma-se a brincar que, se espremermos o jornal, ele sai sangue. Na web também é assim. Eu apenas não posso me calar e deixar de registrar minha indignação contra o desrepeito que nos envergonha, que nos fere e que continua navegando livre pela dificuldade de punir os responsáveis, seja por falta de legislação, seja por falta de interesse daqueles cujo deve é coibir tal desrespeito. Como jornalista, faço minha parte, não calando meu protesto.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Quem disse que é preciso sempre ser forte?
Hoje eu senti um cheiro que abriu uma janelinha em minha memória olfativa: chá de capim- limão. Impossível não voltar ao tempo de criança e não lembrar quando ficava doente e minha mãe preparava um delicioso, quente e docinho chá de capim-limão. O cheiro também trouxe a saudades, de minha avó, daquele jeito que só sabe quem perdeu uma pessoa muito querida há bastante tempo, mas não o suficiente para conseguir evitar as lágrimas nos olhos quando algo nos traz sua presença tão perto da gente.
E como estou precisando de colo esses dias comecei a pensar que, entre as diversas “qualidades” ou “requisitos” que envolvem a tarefa de ser mãe está a de ser forte, sempre. Não no sentido de força física, mas essa também é necessária.
Ser mãe é ouvir, conversar, dar remédios pro corpo quando é necessário e pra alma também, levar ao médico, dentista, ginástica, catequese, inglês e todas as demais aulas ou atividades que aproximam a vida de nossos filhos à realidade de um adulto. Pensar no café da manhã, sem esquecer o almoço, o jantar, o lanche da escola e que amanhã começa tudo de novo.
Preocupar-se com as provas da escola como se fossem suas, sendo que faz algum tempo que você não precisa provar mais nada a ninguém.
Mas tem momentos em que dá uma vontade ser ouvida, ganhar remédio para o corpo e um pouco de afeto pra males da alma, vontade de chorar como criança, sem motivo, apenas por chorar.
Então essas vontades entram em choque com o tal atributo “força” que a mãe deve mostrar, afinal, mãe não pode ficar doente, carente, frágil ou apenas amuada.
Já ouvi de uma pessoa cuja vida de espinhos deu-lhe uma couraça dura e resistente a “dores na alma” não tão importantes assim, de que tracei um caminho sem volta. Isso eu sei, nem penso em voltar atrás, queria apenas, por alguns momentos, ter direito de ser um pouquinho frágil, de precisar dos outros sem justificativas ou momentos especiais.
Acho que quem teve muito carinho sente falta um pouco dos mimos de criança e quem não teve nenhum, não entende o motivo de tanta sensibilidade. São os paradoxos que surgem nas encruzilhadas de caminhos tão diferentes que resolvem se unir. E isso eu já entendi, caso contrários, os caminhos já estaria há muito separados.
Só sei que amanhã vou procurar o tal do capim-limão, pra tentar, de modo paliativo, substituir o insubstituível...
E como toda mãe, preparar também para os filhos, o marido, porque afinal, esta aí uma tarefa que não cessa nunca....
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
País Mais ou Menos
Tudo começou com uma veia. Como assim?! Calma. Já explico. Recentemente passei por um processo cirúrgico de videolaparoscopia. Quanto à cirurgia, estou ótima. O que tem me causado dores, aborrecimento e noites sem dormir é o meu braço. Continuo explicando. Ao encontrar a veia para colocar o meu soro, o profissional em questão deve ter lesionado um pequeno nervo do meu braço. Resultado: da cirurgia, algo mais complexo, principalmente por causa dos pontos e da anestesia geral, estou ótima; mas o que tá “pegando” é um ato simples e básico de uma veia mal pulsionada.
Isso me fez pensar em como vivemos num país mais ou menos. Embora meu convênio seja excelente e tenha sido internada num dos melhores hospitais da cidade onde eu moro, estamos sujeitos a profissionais mais ou menos preparados. Eu digo isso porque, na minha ignorância sobre a profissão de enfermagem, acredito que “achar” uma veia sem machucar o paciente deva ser como fazer uma baliza bem feita por um motorista habilitado. E olhe que eu não posso reclamar. Vemos, todos os dias, na imprensa nacional, notícias das mais escabrosas resultantes do trabalho de profissionais mais ou menos bem preparados. Digamos que, apesar de tudo, eu ainda “saí no lucro”.
Pensando bem, infelizmente o nosso país não é inteiro assim, cheio de pessoas e coisas mais ou menos? Veja a nossa presidente eleita. A gente conhece mais ou menos sobre ela. Quanto aos parlamentares recém eleitos, por exemplo, temos um deputado federal, o mais votado do país, que sabe mais ou menos ler e escrever. E ainda temos que conviver mais ou menos com a incerteza de que nossos políticos são sérios, honestos e trabalhadores.
Na educação, onde a qualidade deveria ser tão exata quanto a Matemática, também vemos todos os dias provas de que ela funciona mais ou menos em todos os níveis. Para coroar tal afirmação, assistimos às recentes lambanças do Enem, cuja realização aconteceu mais ou menos conforme o esperado; mais ou menos prejudicando milhares de estudantes, o que faz com que continuemos mais ou menos acreditando em sua seriedade.
E assim tudo se repete. Nos serviços públicos, principalmente aqueles que dependem deles, acreditamos que iremos receber um atendimento mais ou menos de qualidade. Nos que foram privatizados, também fingimos crer que o que pagamos tem mais ou menos o mesmo nível de exigência que esperamos.
Até no futebol, o ópio de nosso povo brasileiro, temos que aceitar essa conduta mais ou menos de ser. Vejam, por exemplo, o meu time, o Santos. Após o show de bola que encantou o Brasil inteiro no primeiro semestre de 2010, a lesão de Ganso e o mais ou menos descontrole dos meninos mais ou menos educados da Vila fez com que o Santos passasse de equipe sensação (com direito a participação em programas de televisão) para um time bem mais ou menos.
E não é só. Assistimos recentemente o Corinthians ser mais ou menos favorecido pelo juiz no jogo contra o Cruzeiro, o que desde já nos permite dizer que é mais ou menos possível prever qual será o resultado do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2010.
Só sei que tudo isso me leva a crer que estamos cercados de mediocridade por todos os lados. O meu medo, realmente, é ser inundada por essa maré e me transformar numa profissional mais ou menos, numa mãe mais ou menos, numa cidadã mais ou menos. Então, meus amigos, vou confessar uma coisa pra vocês. Como diz a letra daquela canção, eu terei, com toda certeza, perdido a batalha no controle da minha maluquez, misturada com minha lucidez. Pois só sendo maluco beleza pra conseguir continuar vivendo nesse país mais ou menos.
Isso me fez pensar em como vivemos num país mais ou menos. Embora meu convênio seja excelente e tenha sido internada num dos melhores hospitais da cidade onde eu moro, estamos sujeitos a profissionais mais ou menos preparados. Eu digo isso porque, na minha ignorância sobre a profissão de enfermagem, acredito que “achar” uma veia sem machucar o paciente deva ser como fazer uma baliza bem feita por um motorista habilitado. E olhe que eu não posso reclamar. Vemos, todos os dias, na imprensa nacional, notícias das mais escabrosas resultantes do trabalho de profissionais mais ou menos bem preparados. Digamos que, apesar de tudo, eu ainda “saí no lucro”.
Pensando bem, infelizmente o nosso país não é inteiro assim, cheio de pessoas e coisas mais ou menos? Veja a nossa presidente eleita. A gente conhece mais ou menos sobre ela. Quanto aos parlamentares recém eleitos, por exemplo, temos um deputado federal, o mais votado do país, que sabe mais ou menos ler e escrever. E ainda temos que conviver mais ou menos com a incerteza de que nossos políticos são sérios, honestos e trabalhadores.
Na educação, onde a qualidade deveria ser tão exata quanto a Matemática, também vemos todos os dias provas de que ela funciona mais ou menos em todos os níveis. Para coroar tal afirmação, assistimos às recentes lambanças do Enem, cuja realização aconteceu mais ou menos conforme o esperado; mais ou menos prejudicando milhares de estudantes, o que faz com que continuemos mais ou menos acreditando em sua seriedade.
E assim tudo se repete. Nos serviços públicos, principalmente aqueles que dependem deles, acreditamos que iremos receber um atendimento mais ou menos de qualidade. Nos que foram privatizados, também fingimos crer que o que pagamos tem mais ou menos o mesmo nível de exigência que esperamos.
Até no futebol, o ópio de nosso povo brasileiro, temos que aceitar essa conduta mais ou menos de ser. Vejam, por exemplo, o meu time, o Santos. Após o show de bola que encantou o Brasil inteiro no primeiro semestre de 2010, a lesão de Ganso e o mais ou menos descontrole dos meninos mais ou menos educados da Vila fez com que o Santos passasse de equipe sensação (com direito a participação em programas de televisão) para um time bem mais ou menos.
E não é só. Assistimos recentemente o Corinthians ser mais ou menos favorecido pelo juiz no jogo contra o Cruzeiro, o que desde já nos permite dizer que é mais ou menos possível prever qual será o resultado do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2010.
Só sei que tudo isso me leva a crer que estamos cercados de mediocridade por todos os lados. O meu medo, realmente, é ser inundada por essa maré e me transformar numa profissional mais ou menos, numa mãe mais ou menos, numa cidadã mais ou menos. Então, meus amigos, vou confessar uma coisa pra vocês. Como diz a letra daquela canção, eu terei, com toda certeza, perdido a batalha no controle da minha maluquez, misturada com minha lucidez. Pois só sendo maluco beleza pra conseguir continuar vivendo nesse país mais ou menos.
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